Vira-lata já foi um termo mais pejorativo que provavelmente começou com um apelido para os cachorros que vivem fuçando no lixo para comer na rua, eu digo provavelmente porque eu não encontrei nem versão oficial para quando e como o termo foi usado pela primeira vez. É um termo sem Pedigree, mas como eu já dizia vira-lata já foi mais mal visto tanto que nós temos a expressão mais correta, ou pelo menos mais precisa para vira-latas que é SRD sem raça definida.
São cachorros que são bastantes misturados e costumam ter pelo Preto inclusive, mas já tem bastante tempo que a internet trouxe de volta o orgulho vira-lata com o meme do vira-lata caramelo que tentaram eternizar como animal símbolo da nota de 200 reais, e já foi adotado como símbolo do Brasil há mais tempo, afinal você provavelmente já viu um, ou dois, ou três, ou muitos na sua rua de casa.
Mas de onde surge um vira-lata caramelo, como eles aparecem por aí? Nossa história com os cães é uma história bem longa e muito legal. Fomos nós que transformamos um grupo de lobos, que nem existe mais em pugs, com história de domesticação que ainda merece muitos vídeos por aqui, mas por hoje vamos falar do caramelo do vira-lata tem um fenômeno bem curioso que acontece conforme a gente doméstica animais.
Nós domesticamos os cães pela companhia e pela proteção que eles trazem e domesticamos vacas pela produção de leite e carne, assim como as cabras. Mas às vezes esse propósito meio que sem mistura, os cachorros parecem ter feito parte da nossa dieta regular em muitos lugares. Onde alguns ainda são criados como companhia e outros para a engorda, a diferença parece ser que os cães de engorda não ganham o nome, na verdade.
Aqui nas Américas, inclusive, a gente tem o Xoloitzcuintli, mais conhecido como xolo que é uma raça que os Astecas e os Maias criavam por aqui que ainda são descendentes dos cães que nós trouxemos da Ásia há mais de 10k anos quando, quando cruzamos lá para a América do Norte esses cachorros são pelados e serviam de companhia não são lá muito caramelo a maioria vai ter cores mais pretas ou mais acinzentadas.
Eles eram de companhia mas também, talvez, tenham sido selecionados sem pelos. Por outro motivo pelo qual eram criados. Junto com os perus que são aves nativas das Américas, eles serviam de comida. Era uma carne nobre no prato dos povos americanos, pois, seja para alimento ou para fazer companhia para a gente, tem uma característica que todo animal domesticado acaba tendo que ter, eles precisam ser tolerantes ao stress, porque tem que conviver com o humano sem ter o impulso de fugir, como os animais selvagens.
E aí mesmo se a domesticação foi feita sem querer no começo para um lobo topar conviver próximo de um humano o suficiente para se alimentar, ele também tem que ter esse tipo de tolerância.
E quando selecionamos animais tranquilos não é só o temperamento deles que muda, a cor dos pelos muda também, aparecem por exemplo animais malhados com padrões que a gente não vê em animais selvagens. O que parece ter uma relação entre como o sistema nervoso se forma, e as células que dão as cores dos pelos.
Uma explicação que você pode encontrar em mais detalhes no livro Domesticated, que eu recomendo muito, até raposas domesticadas se selecionadas para serem mais dóceis e aceitarem melhor a nossa presença, acabaram desenvolvendo uma pelagem com manchinhas.
No nível mais básico, a cor mais dominante, a cor que têm mais facilidade para se manifestar no pelo dos cachorros é a cor preta. Só quando a cor preta não aparece que as outras cores mais avermelhadas tem uma chance, como o marrom claro do nosso caramelo. As cores dos pelos vêm dessas duas misturas a quantidade de pigmento preto que é a eumelanina e a quantidade de pigmento vermelho que é a faeomelanina. Como cabelo castanho, ruivo ou loiro, e se não tiver cor sendo produzida quando o pelo se forma ele fica branco.
Nós com certeza aumentamos e cultivamos essa variação de cores por nossas preferências estéticas, alguns padrões com as pintas dos Dálmatas ou pelo longo do Lhasa Apso foram escolhidos por criadores para ter esses padrões que precisam de muita seleção de quem cria, para poder acontecer. A genética por trás disso que dá cores de pelos de cães. É um mundo à parte que é cheio de Gênesis e condições. Têm genes que dão um padrão de marrom com preto. Têm genes que dão um focinho Preto. Têm genes que dão cores como o Ruivo dos Golden pelos liso ou enrolado, mancha branca, pelos ficar constantemente ou pelos que cresce sem cair como o pelo de um chow chow ou de um shitzu e por aí vai, ou seja provavelmente fomos nós que criamos a variedade de cores dos cachorros, sem querer quando selecionamos lobos mais dóceis, com a nossa companhia.
E depois a gente ainda aumentou essa variedade de cores e pelos conscientemente conforme passamos a criar e conviver com os cachorros pelo mundo todo. Depois dos humanos os cães foram os mamíferos que mais se espalharam pelo mundo, adivinha levados por quem. Levá-los como nossa companhia seja como os ratos, pombos e baratas que vieram juntos nos nossos acampamentos independente da nossa escolha ou o caso de muitos cães sem dono, que convivem com habitações humanas por aí, ou seja, como os nossos companheiros que foram criados por nós e tem nome próprio nesse caminho os grupos isolados acabaram formando raças pelo mundo. Ou pelo menos variedades locais em várias regiões do mundo por onde a gente passou com adaptações ao clima e aos grupos humanos que conviveram ao redor.
Nós sempre tivemos uma certa dúvida sobre quais seriam as raças ou as linhagens mais antigas dos cães e quando elas apareceram, dava o coração com banana por exemplo as raças de cães asiáticos, como Lhasa Apso com as raças europeias como o Bulldog o pastor alemão, ou raças asiáticas europeias, como o Husky Siberiano, mas nós precisaremos de uma máquina do tempo para poder saber mais detalhes sobre como nós humanos nos espalhamos pelo mundo, e como a gente levou os doguinhas conosco. E felizmente temos uma, o DNA sim porque recentemente nós começamos a recuperar o genomas de cães ancestrais.
Foceis de cães que morreram entre 100 anos e 11 mil anos atrás e começamos a comparar com os humanos que conviveram próximos deles, e comparar genomas é meio que como comparar línguas e dialetos, nós sabemos português, e o galego falado na Galiza norte da Espanha são línguas irmãs que tem uma mesma origem porque são duas línguas que compartilham muitas palavras, o cão do meu avô em português vira o cam do meu avô em Galego, as duas são línguas próximas do espanhol um pouquinho mais distantes do italiano e do francês, todos vindos do extinto latim fazendo esse mesmo tipo de comparação. Extrair o Genoma dos cães ancestrais que morreram há centenas e milhares de anos é o equivalente a desenterrar documentos muito antigos, claro que nos deixam fazer esse mesmo tipo de comparação e ver quem é mais próximo de quem, e quais são as linhagens de cachorros que não existem mais, assim como latim deixou de ser usado e como nós circulamos pelo mundo levando essa linguagem. Descobrimos por exemplo que, há 11 mil anos já tinham os vários grupos diferentes de cachorros pelo mundo e os cachorros vivos hoje em dia, são descendentes de misturas desses grandes grupos.
Tem um grupo do oriente próximo, que é uma parte do Oriente Médio, com o topo da África esse grupo ainda tem traços genéticos no Galo afegão, tem outro grupo no norte da Europa que a ancestral na maioria das raças modernas que vieram na Inglaterra, por exemplo como o Bulldog terrier, tem outro grupo na Sibéria que deixou traços no Husky Siberiano Claro e tem um outro na Nova Guiné que deixou traços em vários cães asiáticos com jindo coreano, e tem outro nas Américas que veio lá da Ásia e ainda aparece em raças de lá como mastiff tibetano, e raças das Américas como o solo e o Chihuahua, e tem um grupo que deixou pouquíssimos descendentes na África principalmente na raça basenji.
O que quer dizer que antes mesmo de a gente tem agricultura ou de domesticar qualquer outro animal, nós já tínhamos os cães com os nossos primeiros companheiros e depois dessa separação de cães Lobos praticamente não teve mistura entre eles o DNA dos lobos parece não ter se misturado com um dos cachorros. O que é bastante surpreendente, porque eles podem cruzar. Isso mostra que provavelmente fomos nós que mantivemos os cães bem longe dos morros, tanto é o caso aliás, que fomos nós que criamos uma variedade de cores e tamanhos de cachorros por seleção de raças. Cachorros são os mamíferos com a maior variação de tamanho de um pequeno mês com menos de 1 kg ao mastiff inglês com quase 100, isso foi mantido na base de muitas seleção humana. Tanto que Cannes, sociedades e prêmios determinam o que é aceitável para cada raça em termos de cores, pelos, porte e até comportamento quando nós paramos de escolher.
Quais são os cachorros que podem cruzar? essa diferença toda tende a sumir na verdade principalmente entre vira-latas pela mistura e pela própria seleção de ambiente em que eles têm que conviver, eles acabam convergindo para alguns formatos que lembram mais animais selvagens, mas ainda carregam os traços da domesticação entre eles, ficam com tamanho médio com a cabeça mais arredondada do que a de um lobo e um comportamento em bandos, e mais algumas coisas.
E quantos cachorros cruzam naturalmente sem a nossa escolha consciente por uma cor específica ou por um padrão de tamanho de pelos as características mais brilhantes predominam por isso tem tanto vira-lata com o pelos mais curtos, mais preto ou mais marrom, digo, caramelo. Isso é bem fácil de perceber, os grupos de cachorros mais selvagens costumam viver próximos de pessoas, mas não são criados diretamente, algo com os cachorros sem dono. Os dingos que são os cães australianos dão exemplo mais extremo disso, até alguns milhares de anos atrás a Austrália não tinha mamíferos com gestação na placenta, como nós temos. Ele só tinha animais monotremados que colocam ovos como os ornitorrincos, ou uma marsupiais que criam os filhotes dentro de uma bolsa que é o marsúpio como os cangurus e os coalas, os nossos gambás. A gente chegou por lá com as nossas placentas há mais de 30 mil anos, talvez mais do que o dobro disso, e por dezenas de milhares de anos, os humanos ficaram de saco. E por aí até que, por volta de 3500 anos atrás, os austronésios, são os povos Navegantes do pacífico, passaram por lá e não ficaram. Talvez porque a interação com os aborígines, não foi muito legal. Mas essa passagem foi suficiente para deixar e por lá os seus cachorros que se deram muito bem, obrigado na Austrália.
Tão bem inclusive que acabaram revertendo a domesticação e se tornaram os lobos daquela região. Tanto que eles têm um tamanho e um comportamento que é o intermediário entre os cachorros domesticados e o de lobos que andam em bando e caçam com Lobos mas tem a pelagem de cachorros. Como tudo na Austrália é mais radical, nada mais justo do que os vira-latas caramelos deles serem Lobos. E os cachorros da Nova Guiné que deram origem ao Dingo, ainda vivem hoje como vira-latas meio que misturado com as pessoas mas também vivendo na mata na Nova Guiné.
Outra raça caramelo que tem mais relação com os cães ancestrais é o bacenjud africano, que sempre é uma Isso é uma raça africana própria, descendente de cães que viviam na floresta. E parece ser mesmo, ele tem uma assinatura genética bem única de cães ancestrais que viveram na África, e ainda tem algumas características selvagens. Eles não latem e só tem filhotes uma vez por ano, como os mastiffs tibetanos.
O mundo todo tem sua variedade de vira-latas caramelo que surgem dessa mistura, aqui no Brasil o mesmo acontece só que aqui. E isso acontece com os descendentes dos cães europeus que a gente trouxe para cá, bem depois. Uma mistura que inclusive pode ser mais saudável para os cachorros, porque nesse processo de criar e manter raças puras que respeitam o padrão de cor e porte. Nós também acabamos fixando nessas raças problemas genéticos que encurtam bastante a vida dos seus portadores.
Enquanto pela própria mistura os vira-latas vivem muito mais, e têm menos doenças do que cães de raça.
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Atila Iamarino